Canabidiol no Brasil: avanços, desafios e perspectivas

O canabidiol (CBD) tem se consolidado como um dos principais agentes de transformação no campo da medicina moderna. Derivado da Cannabis sativa, o composto não psicoativo vem sendo amplamente estudado e aplicado no tratamento de doenças neurológicas, distúrbios do sono, dores crônicas e diversas condições inflamatórias. No Brasil, o interesse pelo uso terapêutico do canabidiol cresceu de forma exponencial nos últimos anos, impulsionado pela demanda de pacientes, avanços regulatórios da Anvisa e uma crescente base de evidências científicas que apontam seu potencial clínico.

Entretanto, o caminho da cannabis medicinal no Brasil ainda é permeado por desafios, desde entraves burocráticos até barreiras econômicas e sociais. Este artigo analisa os avanços recentes, o cenário regulatório, o crescimento do mercado e as perspectivas que podem consolidar o país como uma referência latino-americana em inovação terapêutica com o canabidiol.

O que é o Canabidiol e Como Atua

O canabidiol (CBD) é um dos mais de cem fitocanabinoides presentes na planta Cannabis sativa, mas se diferencia do tetraidrocanabinol (THC) por não possuir efeitos psicoativos. Isso significa que, ao contrário do THC, o CBD não causa alterações cognitivas ou sensações de euforia, tornando-o especialmente atraente para o uso medicinal.

Pesquisas conduzidas pela Fiocruz (2024) e pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) destacam que o CBD interage com o sistema endocanabinoide, modulando funções fisiológicas como dor, sono, humor e imunidade. Essa interação ocorre principalmente nos receptores CB1 e CB2, regulando a liberação de neurotransmissores e promovendo equilíbrio homeostático no organismo.

Aplicações Terapêuticas Reconhecidas

No Brasil, o uso medicinal do canabidiol ganhou notoriedade com os resultados positivos em pacientes com epilepsia refratária, especialmente crianças. Estudos clínicos mostraram reduções significativas na frequência de crises quando o CBD foi adicionado ao tratamento convencional. Além da epilepsia, o óleo de canabidiol tem mostrado benefícios em condições como esclerose múltipla, Parkinson, ansiedade, depressão e dores crônicas (UFPB, 2024).

Regulamentação do Canabidiol no Brasil

A regulamentação brasileira avançou consideravelmente nos últimos anos. Em 2019, a Resolução RDC 327 da Anvisa estabeleceu as bases para a produção, importação e comercialização de produtos à base de cannabis para fins medicinais. Essa resolução foi atualizada pela RDC 660/2022, que simplificou o processo de importação e permitiu a expansão de pontos de venda em farmácias autorizadas.

Resoluções e Estrutura Regulatória

De acordo com a Anvisa (2025), há duas categorias principais de produtos de cannabis no país:

• Produtos à base de cannabis: com composição padronizada de canabinoides, disponíveis mediante prescrição médica.
• Medicamentos registrados: que passaram por todas as etapas de validação clínica e seguem os mesmos critérios de qualidade e segurança de qualquer medicamento farmacêutico.

Importação e Registro

Pacientes podem solicitar autorização para importação excepcional de produtos de canabidiol por meio do portal da Anvisa, desde que apresentem prescrição médica. Essa modalidade, embora importante, é onerosa e restrita, tornando o acesso desigual, especialmente entre pacientes do SUS.

Apesar dos avanços, apenas um número limitado de produtos possui registro formal no Brasil, o que limita a oferta e mantém os custos elevados. Ainda assim, o país vem avançando no debate sobre produção nacional controlada, que pode reduzir a dependência de importações e baratear o tratamento.

Mercado de Cannabis Medicinal no Brasil

Crescimento e Demanda

O mercado de cannabis medicinal brasileiro tem apresentado crescimento consistente desde 2019. Segundo a Kaya Mind (2024), o número de pacientes que utilizam o canabidiol ultrapassa 600 mil, um aumento expressivo em relação aos primeiros anos de regulamentação. A estimativa é que o setor movimente mais de R$ 1 bilhão em 2025, considerando a expansão de farmácias de manipulação e importadoras.

Desafios Econômicos

O alto custo dos produtos continua sendo um dos principais obstáculos para o acesso ao tratamento. Enquanto nos Estados Unidos e Canadá o mercado já opera com produção local consolidada, o Brasil ainda depende fortemente da importação, encarecida por impostos e logística. Isso leva muitos pacientes a recorrerem à judicialização da saúde, exigindo que o Estado custeie o tratamento, prática comum reconhecida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT, 2025).

Desafios e Oportunidades

O avanço do canabidiol no Brasil esbarra em lacunas científicas, barreiras legais e estigmas sociais. A escassez de pesquisas nacionais robustas dificulta a validação de novas indicações terapêuticas, limitando o uso clínico do CBD a poucos diagnósticos.

Além disso, o preconceito cultural em torno da cannabis ainda afeta a percepção pública, mesmo diante de evidências sólidas de segurança e eficácia. Outro desafio está nas barreiras regulatórias que dificultam a entrada de novas empresas e startups no setor, reduzindo a competitividade e a inovação.

Em contrapartida, as oportunidades são igualmente expressivas. O estímulo à produção nacional, sob supervisão da Anvisa, pode reduzir custos e fomentar a economia. A consolidação de parcerias entre universidades e laboratórios farmacêuticos tem potencial para impulsionar a pesquisa e gerar produtos com valor científico agregado. Além disso, o Brasil pode se tornar um exportador estratégico de produtos de cannabis medicinal, aproveitando suas condições climáticas favoráveis para cultivo regulamentado.

Tendências Futuras

As tendências para o mercado de canabidiol no Brasil indicam um movimento de expansão e maturidade regulatória. A expectativa é que o país avance na integração do CBD ao Sistema Único de Saúde (SUS), ampliando o acesso gratuito ou subsidiado a pacientes com doenças crônicas. Paralelamente, novas pesquisas estão explorando o uso do canabidiol em oncologia, autismo, Alzheimer e distúrbios metabólicos, com ensaios clínicos em andamento em universidades públicas.

O desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos, como cápsulas, sprays e pomadas com diferentes proporções de CBD e THC, promete diversificar as possibilidades terapêuticas. Além disso, a inteligência artificial e o uso de big data clínico devem desempenhar um papel crescente na análise de respostas individuais ao tratamento, favorecendo uma abordagem personalizada e mais eficiente.

Brasil e o Futuro da Cannabis Medicinal

O canabidiol no Brasil representa mais do que uma tendência, é um símbolo de transformação no paradigma da medicina e das políticas públicas de saúde. O país vive um momento decisivo para consolidar um ecossistema de inovação que una regulação, ciência e inclusão social.

Para isso, será essencial ampliar investimentos em pesquisa clínica nacional, criar incentivos fiscais para a produção e fortalecer os mecanismos de controle de qualidade. Com o avanço das normas e a ampliação do diálogo entre governo, instituições científicas e sociedade civil, o Brasil tem todas as condições de se tornar referência global em cannabis medicinal de base científica.

Viva o futuro da cannabis medicinal

Os avanços no uso do canabidiol são apenas o começo de uma revolução na saúde e no bem-estar. Para acompanhar de perto esse movimento e conhecer as inovações que estão moldando o mercado, participe da feira We Need to Talk About Cannabis, o maior encontro sobre pesquisa, tecnologia e regulamentação da cannabis medicinal no Brasil.

Lá, especialistas, empresas e profissionais de saúde se reúnem para discutir o futuro de uma medicina mais acessível, humana e baseada em evidências.