A cannabis medicinal tem ganhado espaço como uma alternativa segura e eficaz para o tratamento de diversas condições de saúde, incluindo dor crônica, distúrbios neurológicos, insônia e ansiedade. Esse avanço não apenas desafia antigos preconceitos, mas também destaca a necessidade de compreender melhor as espécies de cannabis e suas propriedades únicas.
As três principais variedades de cannabis — Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis — possuem composições químicas e características botânicas distintas, o que influencia diretamente seus efeitos terapêuticos. Dois dos compostos mais estudados presentes nessas espécies são o THC (tetra-hidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), que agem de forma diferente no organismo e são aplicados em tratamentos específicos.
Neste artigo, vamos explorar as diferenças entre essas espécies, seus benefícios medicinais e as mais recentes descobertas científicas sobre o uso terapêutico da cannabis medicinal.
A Cannabis sativa é talvez a mais conhecida entre as espécies de cannabis. Originária de regiões de clima quente e tropical, como América Central, Sudeste Asiático e partes da África, essa planta tende a crescer alta e com folhas finas e longas.
Do ponto de vista terapêutico, a sativa é valorizada por seus efeitos energizantes e eufóricos, geralmente atribuídos à sua maior concentração de THC. Estudos indicam que ela é eficaz para o tratamento de fadiga crônica, depressão e transtornos de déficit de atenção, além de aliviar dores associadas à esclerose múltipla.
A Cannabis indica se desenvolve melhor em regiões de clima frio, como o Oriente Médio e partes do subcontinente indiano. É uma planta de estatura mais baixa, folhas mais largas e efeito mais sedativo.
Seu perfil químico é geralmente mais rico em CBD, tornando-a uma escolha terapêutica popular para alívio de dor, controle de ansiedade e tratamento da insônia. Além disso, seus efeitos relaxantes ajudam em quadros de artrite reumatoide e distúrbios musculares crônicos, conforme relatado pela American Cancer Society.
Menos conhecida, a Cannabis ruderalis é originária da Rússia e de regiões da Europa Central. Sua principal característica é o autoflorescimento, ou seja, a capacidade de florescer independentemente do ciclo de luz. Ela possui baixo teor tanto de THC quanto de CBD.
Apesar de sua eficácia terapêutica isolada ser limitada, a ruderalis tem sido fundamental no desenvolvimento de híbridos voltados para pacientes que precisam de medicamentos com baixo impacto psicoativo. Seus efeitos suaves podem contribuir para tratamentos leves de dor e distúrbios do sono.
Cada espécie de cannabis oferece benefícios terapêuticos específicos, que são determinados em grande parte pelas concentrações de THC e CBD em sua composição.
O canabidiol (CBD) é conhecido por seus efeitos calmantes, anti-inflamatórios e neuroprotetores, sem causar os efeitos psicoativos típicos do THC. Ele tem sido utilizado com sucesso no tratamento de epilepsia refratária, transtornos de ansiedade, doença de Parkinson e doença de Alzheimer, como mostra o National Center for Biotechnology Information.
Além disso, o CBD pode melhorar a qualidade do sono, reduzir dores crônicas e contribuir para o equilíbrio do sistema endocanabinoide.
O tetra-hidrocanabinol (THC) é o principal responsável pelos efeitos psicoativos da cannabis, mas também possui importantes propriedades analgésicas, antieméticas e anti-inflamatórias. Ele é amplamente usado no controle de náuseas em pacientes oncológicos, tratamento de glaucoma, e redução de espasticidade muscular em doenças como esclerose múltipla.
Estudos da Johnson & Wales University apontam ainda sua eficácia no alívio do estresse pós-traumático (PTSD) e em tratamentos paliativos.
As diferenças entre as espécies de cannabis são determinantes para sua aplicação terapêutica. Enquanto a sativa é indicada para estimular e tratar quadros de depressão, fadiga e déficit de atenção, a indica atua como calmante natural, sendo mais indicada para ansiedade, insônia e dores musculares.
A ruderalis, por sua vez, é uma base genética para novas linhagens híbridas que oferecem tratamentos suaves, especialmente para pacientes sensíveis ao THC.
O avanço da medicina canabinoide tem permitido o desenvolvimento de tratamentos personalizados com cannabis, ajustando as proporções de THC e CBD conforme as necessidades do paciente.
Por exemplo, pessoas que sofrem com ansiedade podem se beneficiar de produtos ricos em CBD, enquanto pacientes em tratamento oncológico podem precisar de formulações com maior teor de THC para controlar náuseas e dores intensas.
Estudos recentes têm demonstrado que a cannabis medicinal pode ter um papel importante no tratamento de distúrbios neurológicos, incluindo epilepsia, Alzheimer e Parkinson. O CBD tem se mostrado especialmente promissor como anticonvulsivante, com aprovação de medicamentos como o Epidiolex pela FDA.
Pesquisas clínicas continuam a avançar, explorando o impacto neuroprotetor dos canabinoides em doenças degenerativas, oferecendo esperança a pacientes que antes tinham poucas opções terapêuticas.
O uso da cannabis medicinal não para de evoluir. Novas formulações — como óleos, cápsulas, pomadas e inaladores — estão sendo desenvolvidas para atender diferentes perfis de pacientes e doenças.
Além disso, pesquisadores buscam maneiras de maximizar os benefícios do CBD e do THC com menos efeitos colaterais, promovendo tratamentos mais eficazes para doenças crônicas, transtornos psicológicos e condições autoimunes.
Apesar do avanço das pesquisas e do aumento da aceitação popular, o uso da cannabis medicinal ainda enfrenta restrições legais em muitas partes do mundo. As diferenças nas legislações dificultam a padronização de tratamentos e a distribuição de medicamentos à base de cannabis.
Ainda assim, países como Canadá, Alemanha e Israel têm liderado a regulamentação e investido em políticas públicas voltadas para o uso medicinal.
O mercado global de cannabis medicinal cresce de forma acelerada. Estima-se que movimentará bilhões de dólares nos próximos anos, com expansão para novos países e aumento da produção de medicamentos com propriedades terapêuticas da cannabis.
Esse movimento representa uma grande oportunidade para profissionais da saúde, farmacêuticas e empreendedores que desejam atuar em um setor inovador e em constante transformação.
Com uma base crescente de evidências científicas, a cannabis medicinal se afirma como uma ferramenta terapêutica relevante e multifacetada. Cada espécie de cannabis oferece benefícios específicos, que podem ser potencializados por meio de tratamentos personalizados, com diferentes proporções de CBD e THC.
A evolução das pesquisas e das políticas públicas abre espaço para novas possibilidades na medicina, na indústria farmacêutica e no cuidado com o bem-estar das pessoas. Ainda há desafios, especialmente no que diz respeito à regulamentação e ao acesso, mas os avanços já conquistados mostram um futuro promissor.
Para profissionais de saúde, pesquisadores, legisladores e curiosos sobre o tema, a feira We Need to Talk About Cannabis é uma oportunidade imperdível para aprofundar esse debate, trocar conhecimentos e acompanhar de perto as inovações que estão moldando o futuro da cannabis medicinal no Brasil e no mundo.
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