Indústria farmacêutica

Royalties na indústria farmacêutica e o impacto na inovação

Escrito por 21brz

16 OUT 2025 - 09H30

O conceito de royalties é fundamental para entender a dinâmica de inovação e acesso na indústria farmacêutica. Em termos simples, royalties são valores pagos pelo uso de uma propriedade intelectual como patentes, marcas, tecnologias ou processos produtivos. No setor farmacêutico, onde a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) de um novo medicamento podem levar mais de uma década e custar bilhões de dólares, esses pagamentos se tornam um dos pilares que sustentam a inovação.

As empresas farmacêuticas dependem dos royalties para recuperar o investimento em pesquisa científica, ensaios clínicos e regulamentações rigorosas exigidas por órgãos como a ANVISA, FDA e EMA. Ao mesmo tempo, o sistema de patentes e de royalties influencia diretamente o acesso a medicamentos, especialmente em países de renda média e baixa, onde o custo dos tratamentos pode ser um obstáculo à saúde pública. O desafio, portanto, é encontrar um equilíbrio entre incentivar a inovação e garantir o direito universal à saúde.

O que são Royalties?

Royalties são pagamentos feitos ao detentor de uma patente, marca registrada ou tecnologia em troca do direito de uso comercial dessa invenção. No contexto farmacêutico, eles garantem que o inventor, geralmente uma empresa ou instituição de pesquisa, seja compensado pelo investimento intelectual e financeiro necessário para desenvolver um novo fármaco.

No setor de medicamentos, o sistema de royalties está diretamente ligado à propriedade intelectual, regulada por tratados internacionais como o Acordo TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights), administrado pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse acordo define padrões mínimos de proteção às patentes e garante que, durante um período determinado (geralmente 20 anos), o titular da patente tenha exclusividade sobre a produção e comercialização do produto.

Existem dois tipos principais de licenciamento: o voluntário, quando o titular da patente concede o uso mediante acordo comercial, e o compulsório, quando o governo autoriza o uso da patente sem o consentimento do titular, em situações de interesse público, como crises de saúde ou emergências sanitárias. O Brasil, por exemplo, já utilizou a licença compulsória para ampliar o acesso a medicamentos antirretrovirais durante a epidemia de HIV nos anos 2000, uma medida considerada referência pela OMS.

A Importância dos Royalties na Indústria Farmacêutica

Os royalties desempenham papel essencial na sustentabilidade financeira da inovação farmacêutica. O desenvolvimento de um novo medicamento envolve inúmeras etapas, desde a pesquisa básica até os ensaios clínicos, e uma taxa de insucesso que pode ultrapassar 90%. As estimativas são de que o custo médio para levar um novo fármaco ao mercado pode superar 2 bilhões de dólares. Nesse cenário, os royalties representam o retorno sobre o investimento e garantem que empresas continuem financiando pesquisas em doenças complexas, como câncer, Alzheimer e doenças raras.

Além de remunerar a inovação, os royalties sustentam um ecossistema de parcerias entre universidades, startups e grandes laboratórios. Muitas descobertas nascem em centros acadêmicos e são licenciadas para empresas privadas, que assumem a fase de testes e produção em larga escala. Esse modelo colaborativo, conhecido como “open innovation”, tem acelerado a introdução de terapias avançadas, como medicamentos biológicos e terapias gênicas.

Por outro lado, a concentração de patentes nas mãos de poucas empresas globais também gera debates sobre monopólio e acesso desigual. O relatório do IPEA (2024) aponta que 80% das patentes farmacêuticas ativas no Brasil pertencem a corporações estrangeiras, o que reforça a necessidade de políticas nacionais que promovam a inovação local e acordos mais equilibrados de licenciamento.

Royalties e o Acesso a Medicamentos

Embora essenciais para incentivar o desenvolvimento de novos fármacos, os royalties impactam diretamente o preço final dos medicamentos. Os custos relacionados à propriedade intelectual, que incluem royalties, taxas de patente e exclusividade de mercado, podem representar até 30% do valor final pago pelo consumidor, de acordo com estudo publicado pela WTO (2023).

Esse modelo de precificação cria desafios para países em desenvolvimento, onde os orçamentos públicos de saúde são limitados. Para mitigar esse impacto, a licença compulsória surge como uma alternativa estratégica. Foi o que ocorreu durante a pandemia de COVID-19, quando países como Índia e África do Sul pressionaram a OMC a suspender temporariamente certas regras do TRIPS para permitir a produção local de vacinas sem pagamento de royalties.

A licença compulsória é prevista em lei e pode ser aplicada quando o interesse público se sobrepõe ao direito comercial. No Brasil, a Lei nº 9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial) autoriza essa medida em casos de emergência nacional, abuso de poder econômico ou práticas anticompetitivas. Essa política se mostrou eficaz para reduzir custos e ampliar o acesso a medicamentos essenciais.

Contudo, o equilíbrio entre inovação e acessibilidade ainda é um desafio global. Organizações como a Medicines Patent Pool (MPP) têm buscado soluções colaborativas, criando bancos de patentes que permitem o licenciamento a preços mais justos para países de baixa renda, sem comprometer totalmente o retorno financeiro das empresas.

Tendências e Cenário Atual no Brasil

O cenário brasileiro tem avançado de forma consistente no debate sobre royalties e propriedade intelectual na área da saúde. A ANVISA e o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) trabalham de forma integrada para revisar processos de patente e facilitar acordos de transferência de tecnologia entre instituições públicas e privadas.

Um exemplo é o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), iniciativa do Ministério da Saúde que estimula parcerias público-privadas para nacionalizar a produção de medicamentos estratégicos. Em muitos desses acordos, os royalties pagos a empresas estrangeiras são compensados pela transferência gradual de tecnologia a laboratórios públicos, como a Fiocruz e o Instituto Butantan.

O Brasil também tem ampliado o número de parcerias de desenvolvimento produtivo (PDPs), que permitem que o país produza medicamentos inovadores localmente após o término do período de exclusividade da patente. Esse modelo reduz a dependência de importações e fortalece a autonomia tecnológica nacional.

O Futuro dos Royalties e da Inovação Farmacêutica

O futuro dos royalties na indústria farmacêutica será moldado pela busca de equilíbrio entre lucro e propósito. De um lado, a necessidade de proteger o investimento em inovação continua indispensável para viabilizar novas terapias. De outro, cresce a pressão social e política por modelos de precificação mais inclusivos e transparentes.

As novas tecnologias biomoleculares, como a edição genética por CRISPR e os medicamentos personalizados baseados em RNA mensageiro, ampliam o debate sobre propriedade intelectual. Esses avanços têm potencial para revolucionar o tratamento de doenças, mas também trazem desafios éticos e econômicos, já que os custos de desenvolvimento são elevados e a proteção por patente, extensa.

Além disso, a transformação digital e o uso da inteligência artificial na descoberta de fármacos estão acelerando a inovação, mas também exigem novos marcos regulatórios para definir quem é o “dono” da invenção: a empresa, o algoritmo ou o pesquisador. Essa discussão deverá redefinir as políticas de royalties na próxima década.

Caminhos para um Modelo Equilibrado

O futuro da indústria farmacêutica depende de um modelo de royalties que promova a inovação sem excluir pacientes. Políticas públicas devem buscar transparência nos contratos de licenciamento, incentivos fiscais para P&D local e estímulo à cooperação internacional em pesquisas de interesse global, como doenças tropicais negligenciadas.

A consolidação de polos farmoquímicos nacionais e a formação de parcerias tecnológicas com universidades podem gerar um ambiente favorável à inovação aberta, diminuindo a dependência de patentes estrangeiras.

Conclusão

Os royalties farmacêuticos representam muito mais do que um mecanismo financeiro, são a base que sustenta o progresso científico e tecnológico da medicina moderna. Sem eles, os incentivos à pesquisa de novos medicamentos diminuiriam drasticamente, comprometendo a descoberta de terapias vitais. No entanto, a busca por um sistema mais equilibrado e inclusivo é indispensável para garantir que os avanços cheguem a todos.

O desafio da próxima década será harmonizar inovação e acesso, promovendo políticas globais que tornem o desenvolvimento de medicamentos sustentável e socialmente responsável.

A FCE Pharma reforça a importância desse debate e convida profissionais, pesquisadores e empresas a acompanharem as próximas edições do evento, onde royalties, inovação e acesso à saúde estarão no centro das discussões que moldam o futuro da indústria farmacêutica.

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